i got something to tell




'Tou? (Português)

20 October 2006
Soundtrack: Sully Sefil - J'Voulais + Lupe Fiasco - Ghetto Story

‘Tou? Olha, sou eu... Humm... Olha.. É pá.. Fogo.. Fiz merda... É pá.. Calma, deixa-me falar... Ele é como um irmão para mim... E agora deixei-o ali deitado, sozinho, abandonado.. Sou um cobarde.. Fugi.. Foi assim: era uma ganda fezada. Combinámos ir só os dois hoje à noite. Chegámos ao armazém. Pensávamos que não ‘tava lá ninguém, mas ‘tavam lá três manos. Escondemo-nos e esperámos pelo momento ideal. Aquilo ‘tava cheio de jóias, relógios e isso. Tínhamos planeado isto há já muito tempo, não podíamos vacilar... Dois dos gajos bazaram, ficou só um lá sozinho. Era agora ou nunca. Decidimos avançar! O objectivo era prender o gajo para depois podermos carregar as cenas à vontade para o carro. Eu levantei-me, corri em direcção ao mano. Dei-lhe com o cotovelo no queixo, mas ele era forte, não caiu, dei-lhe outra vez, mas agora na cara. Ele caiu. Amarrei-o. Começámos a carregar as cenas para o bote. Já tínhamos aquilo quase cheio, olhei lá para dentro, o outro tinha-se soltado. Stressei. O gajo correu atrás do meu puto, eu ainda gritei para o avisar, mas já era tarde. Ele agarrou-o. Nem tive tempo para pensar, agarrei numa pedra e atirei. O gajo desviou-se e acertei no meu puto. Ele caiu logo, ‘tava a sangrar. Eu fui ter com ele. O outro mano foi ao escritório e voltou com uma gun na mão. O meu puto gritou com as poucas forças que tinha para eu fugir. Eu não o podia deixar sozinho, mas o outro voltou e começou a disparar. Corri para o bote e arranquei. Foda-se! Que merda! Deixei o meu puto sozinho, tenho a mercadoria no bote e quando bazei já ouvia as sirenes. Não!!! Não chores.. Preciso de ti, dama! Só tu me podes ajudar. Tu sabes que tu és a única que me consegue penetrar a mente. Foste a primeira dama a quem eu dei ouvidos. E isto eu ‘tava a fazer também por nós... Sim, eu sei que estas coisas não são para mim, mas eu ‘tou farto.. Toda a minha vida tentei fazer tudo certo, estudar, trabalhar.. Nada deu resultado.. Na escola só me sabiam ensinar que sou burro e trabalhos de animal, dispenso... Se vejo o resto do people que anda aí a fezar, a dealar e a matar, eles ‘tão todos a viver bem.. Por isso quizémos tentar isto.. Agora? Agora tou num beco, a telefonar duma cabine.. Não! Não, isto aqui ‘tá escuro, aqui ninguém me vê... Tenho de fugir! Tens de vir comigo... Eu quero ficar contigo para sempre... Quero-te dar um futuro como deve ser... Quê? Não sei.. não sei.. Para qualquer lugar.. Longe daqui... E se me apanham? Não posso ir para a prisão. Os cotas não merecem. Fogo, a cota a levantar-se todas as manhãs bem cedo para ir vender peixe na praça. Sempre deu tudo para nos dar uma boa educação. Tu sabes, nunca fomos ricos, as condições não ajudaram, mas temos um bom lar. O cota não teve a mesma força e rendeu-se ao álcool, mas mesmo assim tentou ser bom pai. Ai! Calma aí!.. Não, não foi nada, era só um carro que passou ali em cima. E que exemplo vou dar o meu irmão? Ele ‘tá-se ali a matar todo na school e no campo de futebol para ser alguém e eu agora fui fazer isto, mostrar-lhe o caminho mais fácil.. Aquele caminho inseguro, incerto e errado. Eu adoro aquele miúdo e assim vou-lhe estragar o futuro. E a minha maninha? ‘Tá a crescer para se tornar uma mulher independente, luta todos os dias para sobreviver no bairro. É inteligente, bonita, ela safa-se, mas não pode olhar para trás. Ela tem futuro, vai conseguir sair daqui.. Temos todos de sair daqui, isto não é vida. Aqui um gajo perde a vontade. Todos os dias me levanto da cama, sem vontade de fazer nada.. Ando o dia todo mesmo só à espera de voltar para a cama... Pensei que esta fosse a melhor solução.. Enganei-me.. AAAHHH!!........

“tut-tut-tut-tut-tut-tut”

Vers brood (Nederlands)

02 October 2006
Soundtrack: Orishas - Ausencia

Het was een mooie ochtend, de zon scheen, stralend en lachend. Het licht kwam naar binnen door de gaatjes van de rolluiken en probeerde zich te infiltreren in het huis. Hij stond op en toen hij zijn ogen open deed, zocht hij haar. Hij keek naar links, hij keek naar rechts… Niks! Met die rustige looppas die typisch is voor mannen die een bepaalde leeftijd hebben bereikt na veel gewerkt en gelopen te hebben, liep hij door het huis en schreeuwde de naam van zijn vrouw. Deze naam verliet zijn lippen op een schorre, ruwe manier en zonder die glans die hem vroeger kenmerkte. Zelfs dit mooie woord had de magie, die toverkracht verloren die het wel had in de tijd dat ze elkaar ontmoetten. Die zachte, zoete en melodische randjes aan haar naam die hem vroeger aan het grijnzen brachten, waren nu verdwenen.
Waar zou ze zijn? Allerlei rare gedachten vielen op dit moment zijn hoofd binnen. De foto’s van hun jeugd samen, de foto’s van hun bruiloft, ze zwierven allemaal rond in de geest van deze man, die door velen werd bewonderd voor het respect en liefde waarmee hij zijn vrouw behandelde. Het stel stond altijd bekend om het geluk dat ze uitstraalden, maar dat geluk was nu niets meer dan een herinnering van een ver verleden. Wat was met die liefde en geluk gebeurd? Waar was dat respect naartoe gegaan? Terwijl hij haar zocht, werd zijn hoofd steeds zwaarder door het denken aan al die herinneringen van het lange leven dat ze samen hebben doorgebracht.
Hij deed alle deuren open en riep, maar geen teken van haar. Ze was dus niet thuis. Zou ze hem hebben verlaten, zoals ze zo vaak had bedreigd? Zijn geweten werd nu overvallen door dit idee. Vooral na de heftige discussie van de avond ervoor, had hij geen twijfels meer. Ze had hem verlaten! Een mix van gevoelens verspreidde zich snel door zijn uitgeputte lichaam. Aan de ene kant, een schuldgevoel, want hoewel zij al lang dreigde weg te gaan, wist hij dat hij de avond ervoor te ver was gegaan. Opeens zag hij weer alles voor zich, daar aan tafel rond etenstijd. Dat moment dat hij tegen haar zei dat ze mocht vertrekken, die schreeuwen gevuld met woede. Voor het eerste in de lange jaren die ze elkaar kenden, zag hij schrik en angst in haar ogen. Alsof het nog niet genoeg was, voegde hij er nog aan toe dat ie haar niet nodig had, dat de enige reden waardoor ze bij hem was gebleven was om hem te plagen en uit te lachen. Hij kon best zonder haar… Ze gaf geen antwoord, stond op en begon de keuken op te ruimen.
Aan de andere kant, een gevoel van angst begon de rest van zijn spieren te verlammen. Ja, want na zoveel jaren aan het werken op dat autofabriek, kon hij niet meer zeggen dat zijn spieren volledig functioneerden. Het was angst, hij was bang voor een toekomst zonder haar. Diep in zijn hart wist hij dat hij veel van haar hield, ook al was het jaren geleden dat hij het tegen haar zei. Hij wist dat hij niet zonder haar kon. Hij had nooit geleerd hoe hij moest koken, of wassen, of poetsen. Zij was heer en meester in dat huis zonder vreugde, maar wel altijd schoon en opgeruimd. Hij wist niet eens hoe het fornuis werkte. Hoe moest het nou verder, zonder haar? Hoe zou het met hem gaan, alleen, oud en levensmoe?
Al deze gedachten, gevoelens en angsten waren verwarrend. Hij besloot te gaan zitten, aan de keukentafel, waar de ruzie had plaatsgevonden. Terwijl hij naar de tuin keek, ontsnapte een traan uit zijn bejaarde blik. Het was een traan op de vlucht, die door niemand gezien mocht worden. Op het moment dat de traan via de kin zijn gezicht verliet en het blad van de tafel aanraakte, hoorde hij het geluid van een deur die openging. Hij stond op. Ze liep de keuken binnen met die glimlach die vastgeplakt zat op haar gezicht. Al die gedachten die hem hadden overvallen minuten geleden, vlogen snel weg via de achterdeur van zijn geest. Hij keek haar aan met dat misselijke gezicht dat tangodansers trekken als ze de muziek horen en vroeg haar, boos:
- Waar was je? Ik heb de hele ochtend naar je gezocht!
Ze antwoordde, rustig en zacht:
- Ik was vers brood gaan halen, dat je zo lekker vindt…

Pão fresco (Português)

Soundtrack: Orishas - Ausencia

Era de manhã e o sol brilhava, sorrindo radiante. A luz entrava no quarto através das pequenas fendas dos estores, como que tentando infiltrar-se na casa. Ele levantou-se da cama e, ao abrir os olhos, procurou-a. Virou a cabeça para a direita, virou-o para a esquerda... Nada! Com aquele caminhar pausado comum a homens que alcançaram uma certa idade depois de muito trabalharem e andarem, vagueou pela casa, gritando o nome da mulher. Este nome partia de sua boca de forma rouca, áspera e sem aquele fulgor que o caracterizava. Até essa palavra perdera aquela magia que possuía na altura em que se conheceram. Aquele toque suave, doce e melódico que outrora o obrigava a sorrir.
Onde será que ela está? Os mais variados pensamentos invadiam por esta altura a sua mente. As fotos da juventude que passaram juntos, as fotos do casamento, todas elas passeavam pela cabeça deste homem, que muitos admiravam pelo carinho e respeito com o qual tratava a sua mulher. O casal sempre foi muito conhecido pela felicidade transmitiam a todos à sua volta, mas essa felicidade era agora uma ilusão de um passado longíquo. O que será que aconteceu ao carinho e à felicidade? Onde foi parar o tal respeito? Enquanto a procurava, ele ia quebrando a cabeça com memórias dessa vida longa que passaram juntos.
Abriu todas as portas da casa, enquanto chamava por ela, mas isto não lhe fez chegar a algum resultado. Tudo dava a indicar que ela não estava em casa. Será que ela o tinha mesmo deixado como havia ameaçado tantas vezes? Esta ideia começou a tomar conta da sua consciência. Principalmente depois da acesa discussão que os dois tiveram na noite anterior, ele não tinha qualquer dúvida. Ela deixou-o! Um misto de sentimentos alastravam pelo seu corpo cansado. Por um lado um sentimento de culpa, porque mesmo sendo verdade que as ameaças já vinham de há muito tempo atrás, o que ele lhe tinha dito ontem ultrapassara o nível baixo de tantas outras discussões. Assim de repente, o seu espírito regressou à mesa e hora de jantar. Aquele momento em que ele lhe disse para sair daquela casa, aqueles gritos preenchidos com raiva ordenando-a a partir. Pela primeira vez nos longos anos em que se conheciam, ele viu susto nos olhos de sua mulher. Como se já não tivesse sido suficiente, ele continuou o seu ataque, dizendo-lhe que não precisava dela e que ela não havia partido antes apenas para poder gozá-lo e provocá-lo. Ele disse que passava muito bem sem ela. Ela não respondeu e imediatamente se levantou da mesa e continuou as suas actividades de limpeza.
Por outro lado um sentimento de agonia começava a paralisar o resto dos seus músculos. Sim, porque depois de tantos anos a trabalhar naquela fábrica, ele já não podia dizer que o seu corpo funcionava a cem porcento. Esta agonia era uma espécie de medo, medo pelo futuro sem ela. No fundo ele amava-a muito e sabia que não conseguia viver sem ela. Nunca aprendera a cozinhar, a tomar conta da casa. Ela era dona e senhora daquela casa sem alegria, mas sempre limpa e arrumada. Ele nem sequer sabia como trabalhar com o fogão. O que seria agora da sua vida, sem ela? O que seria da sua vida, sozinho, velho e cansado?
No meio desta confusão de pensamentos, receios e sentimentos, ele decidiu sentar-se à mesa da cozinha. Olhando para o jardim, uma lágrima escapou-se por entre o seu olhar idoso e cansado... Era uma lágrima fugitiva, uma lágrima que ninguém podia ver. No momento em que a lágrima largou o seu queixo e atingiu a mesa, ele ouviu o barulho da porta a abrir. Ele recompôs-se e levantou-se. Ela entrou na cozinha com aquele sorriso que não largava a sua face, na alegria ou na tristeza. Todos os pensamentos que o haviam assaltado, fugiram rapidamente pela porta das traseiras da sua mente. Ele olhou para ela com aquela cara enjoada que pessoas que dançam o tango têm ao som da música e perguntou-lhe zangado:
- Onde estavas? Estive a manhã toda à tua procura!
Ela respondeu, calma e doce:
- Fui comprar pão fresco, como tu gostas...